Dr. Drauzio Varella entrevista Dr. Paulo Ayrosa Galvão é médico nefrologista e faz parte do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo
Cálculo renal, conhecido popularmente como pedra nos rins, é um quadro agudo que se instala mais nos homens do que nas mulheres e provoca dor inesquecível. Os livros antigos de medicina diziam que é a dor mais próxima da do parto que os homens podiam sentir.
Na verdade, cálculo renal é uma nomenclatura imprecisa. Melhor seria chamá-lo de cálculo das vias urinárias porque pode acometer qualquer ponto do aparelho urinário constituído pelos rins, ureteres, bexiga urinária e uretra. Com formato semelhante ao de um grão de feijão de maior tamanho, os rins são duas estruturas anatômicas que filtram o sangue que chega pela artéria aorta, distribui-se pelas artérias renais e retorna ao coração pela veia cava. Neles é produzida a urina, que desce pelos ureteres, desemboca na bexiga e é eliminada pela uretra. Quando o cálculo se encontra no parênquima renal não costuma dar sintomas. Quando vai, porém, para a parte central onde estão os tubos coletores e para os ureteres pode provocar dor de forte intensidade, a cólica renal, que requer cuidados médicos.
Drauzio – Quais são as características da dor provocada pelo cálculo renal?
Paulo Ayrosa Galvão – A dor do cálculo renal é muito forte, aguda, inesquecível mesmo. É uma dor lombar alta, unilateral, pois raramente se manifesta nos dois lados das costas. Diferente da dor crônica, aquela que se instala por dias ou semanas, irradia-se pelo flanco (região lateral do abdômen), pela pelve e alcança os genitais tanto do homem quanto da mulher, à medida que o cálculo progride pelas vias urinárias. É importante ressaltar que a posição ou o movimento do corpo não influem no aparecimento nem na intensidade dessa dor.
Drauzio – Na verdade, pessoas com cólica renal não conseguem encontrar posição…
Paulo Ayrosa Galvão – Algumas se jogam no chão e rolam porque a dor, às vezes, é intolerável.
Drauzio – Além da dor, há outros sintomas ligados ao cálculo renal?
Paulo Ayrosa Galvão – Existem alguns sintomas associados ao cálculo renal, como vômitos, febre, dor para urinar, sangue na urina, mas o sintoma clássico é mesmo dor aguda, forte e intensa que muitas mulheres comparam à dor de parto. Na verdade, entre as dores que podem ocorrer nas costas e no abdômen, talvez seja mesmo a de maior intensidade.
Drauzio – Como se faz o diagnóstico do cálculo nas vias urinárias?
Paulo Ayrosa Galvão – É relativamente fácil fazer o diagnóstico da cólica renal clássica por causa da intensidade da dor. Entretanto, alguns indivíduos têm cálculo renal sem dor ou com dor leve, o que é muito perigoso. Há descrição de casos em que a pedra foi para o ureter, provocou um pouco de dor, que desapareceu depois de algum tempo, apesar de ela não ter sido eliminada. Isso pode causar a obstrução das vias urinárias, colocando em risco o rim do paciente.
Drauzio – É possível chegar ao diagnóstico preciso pelo exame de urina?
Paulo Ayrosa Galvão – É possível, se bem que o trabalho seja mais complexo. Não basta uma amostra isolada. É preciso recolher a urina durante 24 horas e, nesse volume todo, fazer um estudo para tentar localizar o distúrbio metabólico que causou a alteração. Para garantir a precisão do resultado, por definição, essa coleta deve ser feita duas vezes. Portanto, a análise do perfil metabólico é feita no primeiro material recolhido e repetida dias mais tarde com outro material coletado seguindo as mesmas normas.
Drauzio – Por que algumas pessoas têm dor intensa e outras, dores mais discretas?
Paulo Ayrosa Galvão – A sensibilidade à dor varia de indivíduo para indivíduo. Além disso, no parênquima renal, a pedra é assintomática. A dor forte aparece por causa da obstrução na via urinária que ela provoca quando cai na pelve renal e vai para o ureter, uma vez que bloqueia a passagem da urina e o rim dilata. À medida que o cálculo migra, ou seja, desce pelo ureter, as cólicas se intensificam, mas acalmam se a progressão for interrompida por alguns minutos, voltando a doer quando ele se movimenta de novo.Como já disse, o perigo maior está nos quadros assintomáticos com o cálculo alojado no ureter determinando obstrução na via urinária, o que compromete o funcionamento do rim e pode provocar perda ou destruição do tecido renal.
Drauzio – Essa obstrução não impede que o indivíduo continue urinando normalmente porque o outro rim permanece funcionando.
Paulo Ayrosa Galvão – Continua urinando normalmente, porque apenas um dos rins foi afetado. Embora exista, é raro encontrar cálculo bilateral.
Drauzio – Contra isso, o paciente assintomático não tem muita defesa.
Paulo Ayrosa Galvão – Por isso, depois de cólica com suspeita de cálculo renal, é importante procurar um médico para avaliação. Primeiro, para ter certeza de que a dor foi provocada por um cálculo e não por outra enfermidade. Depois, para saber se ele foi de fato eliminado das vias urinárias. Além disso, mesmo que tudo tenha corrido bem, a possibilidade de nova crise beira os 80% nos homens, e quase a metade disso nas mulheres. Na verdade, 10% dos meninos e 5% das meninas que nascem hoje, se chegarem aos 70 ou 80 anos, terão cálculos renais.
Drauzio – Por que essa diferença entre homens e mulheres?
Paulo Ayrosa Galvão – Não se sabe ao certo. Ainda não foi encontrada uma razão convincente que explique a diferença.
Drauzio – Normalmente os cálculos renais não constituem uma doença grave…
Paulo Ayrosa Galvão – Cálculos renais provocam dor tão intensa que o paciente pode precisar de internação hospitalar e, às vezes, ser submetido a procedimento cirúrgico. Na maioria dos casos, porém, não é uma doença grave. O grande problema está na obstrução assintomática que leva à perda da função renal, nas infecções urinárias ou no cálculo obstrutivo constituído por fosfato, amônia e magnésio que compromete a pelve renal e pode causar insuficiência renal crônica.
Drauzio – Vamos começar pelo tratamento contra a dor.
Paulo Ayrosa Galvão – No momento da dor, o mais importante é a analgesia. O paciente pode tomar os remédios em casa, mas se a dor aumentar deve ir para o pronto-socorro e, conforme o caso, ser internado no hospital.
Os primeiros medicamentos indicados são os analgésicos, os antiespasmódicos e os antiinflamatórios. Muitas vezes, eles não bastam para controlar a dor e o paciente eliminar o cálculo. Como podem ocorrer vômitos quando ela é muito forte, é preciso prescrever medicação injetável. Dor persistente, porém, exige a aplicação de derivados da morfina e internação hospitalar.
Acredita-se que cálculos pequenos, de no máximo 5mm ou 7mm, passam pela via urinária sem maiores problemas. O paciente é mantido sob analgesia até eliminá-los e depois tratado eletivamente. Cálculos maiores podem entrar no ureter e nele ficarem retidos. Não vão nem para frente nem para trás. Aí, a dor é mais intensa e prolongada e o caso demanda outro tipo de intervenção para que sejam retirados.
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